“A única pessoa no seu caminho é você mesma!” (Thomas – interpretado por Vincent Cassel)

No momento em que começo a escrever, estou assistindo “O Profissional” de Luc Besson. Após sair do cinema deu vontade de voltar no tempo e ver a Natalie Portman no início de carreira. É incrível como uma criança daquela idade consegue ter tamanha imponência na tela.

Desde cedo sempre tive uma queda por ela. Talvez por conta de ser a mãe de Luke e Leia Skywalker (Hey, geek é a mãe!!), ou pelo jeitinho “mulher com um sorriso de menina”, mas ela com certeza estaria meu Top 10. Não é a toa que sempre escuto dizerem que a minha “muié” parece com ela… rs. Estética à parte, vamos ao que interessa: a atriz.

Natalie já contracenou com atores de todos os níveis. Com Al Pacino e Robert De Niro em “Fogo contra Fogo”, com um grande elenco na comédia “Marte Ataca”, dentre eles Jack Nicholson, Michael J. Fox, Glenn Close, Danny De Vito e outros mais. Além disso, não há maneiras de esquecê-la como “the disarming lady” de Jude Law em “Closer”. Padmé Amidala nunca será a mesma depois daquela peruca rosa (uh-la-la…). Eu sei que você está lendo isso e (talvez) dizendo: “Mas por que diabos ele está falando tudo o que já sei/assisti/li?”. Na verdade, é só para fazer a ponte da minha linha de raciocínio para explicar minha modesta opinião sobre o “Cisne Negro”.

Black Swan

Encontrar artistas que se sacrificam pela arte não é fácil… Temos alguns exemplos de mudanças radicais na estética corporal ao longo dos anos que, por mais que mudasse radicalmente (até pro futuro) o corpo, ainda assim os artistas arriscaram… Um exemplo de grande ator que fez isso é Robert De Niro em “Touro Indomável” que ganhou peso para interpretar o papel de Jake La Motta. Há quem diga que o rosto dele nunca mais foi o mesmo depois daquele filme. Outra atriz que passou por isso foi Renée Zellwegger para interpretar os 2 filmes de Bridget Jones. É absurda a diferença dela entre “Jerry Maguire” e esse dois onde ela está chubby. A própria Natalie Portman é um dos exemplos… Quem assistiu a adaptação da obra de Alan Moore para os cinemas, “V de Vingança” (um dia ainda escreverei sobre esse filme mesmo já tendo um bom tempo do seu lançamento), presenciou a cena onde Evey Hammond é torturada e tem seu cabelo raspado. Talvez um processo mais simples que pelo qual ela passou em “Cisne Negro”, mas também difícil (machismo à parte, é mais complicado para uma mulher raspar a cabeça do que para um homem). E ainda assim ela aceitou mais um desafio ao encarar o papel da bailarina Nina Sayers.

Nina é uma bailarina exemplar e faz papel de coadjuvante numa peça do diretor Thomas Leroy (interpretado pelo “Sr. Belluci”, Vincent Cassel), que percebe de sua bailarina principal não tem mais o mesmo resultado com o público como ele gostaria. Eis que ele decide criar uma adaptação “mais visceral” do “Lago dos Cisnes” e procura a substituta para Beth MacIntyre, interpretada por Winona Ryder. Quando Nina é selecionada entre as bailarinas propensas a ganhar o papel, começa a sua jornada.

Para ela, ballet é vida. É aquilo com que ela sonha e vive. Isso é nítido desde a primeira cena do filme. Por isso, todos os movimentos de Nina são sincronizados e perfeitos. Toda essa busca pela perfeição seria perfeita para o papel da Princesa Odette. No entanto, simetria e precisão não é o que melhor se encaixa ao outro personagem que a mesma dançarina teria que interpretar, a irmã má de Odette, Odile. Eis a origem do nome “Cisne Negro”. No momento em que Nina decide lutar para convencer Thomas de que é capaz de caminhar/dançar entre os dois mundos, inicia-se uma sequência de situações estranhas, porém cativantes, que te faz ficar preso na poltrona para saber onde termina a realidade e começa o mundo onírico desperto.

Ouvi diversos (e divergentes) comentários sobre o filme. Desde um cretino que levantou xingando na sessão, passando por pessoas com conhecimento vasto em filmes e cultura pop, chegando até às críticas de “especialistas” em cinema. Ao meu ver, o filme não é o melhor da minha vida… Mas merece todo o respeito e tempo (e dedicação) suficiente para digestão do mesmo. No geral, ele é muito tenso… Sente-se um desconforto ao subir os créditos… Algo físico mesmo… Fecho esse parágrafo apenas reiterando algo em que acredito e muito: não vá ao cinema ver “Platoon” esperando que seja como “Corra que a polícia vem aí”, ok?

Mas voltando ao filme: há quem diga que a menina simplesmente pira na pipoquinha no filme. No entanto, seria simplificar demais e (provavelmente) tirar o verdadeiro mérito do filme (e de Darren Aronofsky).

Para ela, perfeição era o que funcionava! Perfeição no passos… Perfeição na postura… Perfeição no ritmo… Perfeição como filha… Perfeição como ser humano (vide-a defendendo Beth MacIntyre no camarim)… Tudo nela é movido pela perfeição.. Pelo correto… Pelo “dito” correto… Quebrar o ciclo é dolorido demais… No entanto, percebe-se no filme a consciênca de que seria necessário “sair do quadrado” para crescer no meio artístico… É perceptível a sensação de “última chance” intrínseca no processo de escolha da protagonista… Assim como uma atriz, como seria Nina capaz de entender o papel de Odille, a Cisne Negro, se tudo em sua vida era harmônico e “branco”. Ela sequer beirava a fronteira entre os 2 mundos… Com a personagem de Mila Kurnis (Lily), Nina vê a oportunidade de descobrir esse lado… Como se fosse sua nêmesis, elas se envolvem numa amizade conturbada, regada a sensualidade e competitividade, aonde as 2 duelam pela atenção de Thomas e degladiam subliminarmente pelo papel. Nesse processo, nós acompanhamos a sanidade de Nina se esvair em obsessões e medos. Suas atitudes mudam com todos ao seu redor e, no decorrer do filme, acompanhamos os receios dela (principalmente observando a sua antecessora esmaecendo após sua aposentadoria forçada). Tudo caminha para o clímax como toda boa história que é bem contada.

Não gosto de estragar final de filme, por isso, prefiro apenas deixar em aberto um pensamento para (quem sabe) discutirmos em breve: se tudo para ela era perfeição, talvez até mesmo a ausência dela fosse algo em que ela precisava praticar para atingir o máximo possível dessa “assimetria”. E como interpretar algo que não se conhece? Que não se sente? Não seria o caso de ter que trilhar essa estrada para, às suas regras, atingir a excelência dela? E se tudo deve ser perfeito, até mesmo a imperfeição, observar seu futuro em pessoas ao seu redor não faria você querer o ápice da sua profissão e vida? Em suma: até que ponto devemos classificar a loucura como algo invonlutário?

Talvez eu esteja voltando às aulas de faculdade com o professor Roberto Coelho onde discutíamos diversos contextos para um mesmo filme, mas acho que esse é o melhor atributo de filmes como “Cisne Negro”: pensar… Não é um blockbuster onde você senta e assiste sem se importar com que está acontecendo… É uma obra que precisa da sua empatia… Por isso, entre no filme… Situe-se… E acima de tudo: pense!!! Talvez você não esteja acostumado e possa doer um pouco no começo (hehehe), mas é melhor do que se abster de descobrir novas visões do mundo…

Acho que é isso… Assista e volte, pois aguardo seus comentários…

Ah! E acredito que Natalie leva a estatueta esse ano… E você?