Thank You, Detroit!

Dissonância em Si

“Sem música, a vida seria um erro.” – (Friedrich Nietzsche, filósofo)

Na última sexta-feira, dia 28 de Fevereiro de 2014, sofri um baque com uma atitude ingrata vinda de pessoas por quem tinha um tremendo apreço. Com a máscara do profissionalismo, a ética sucumbiu a palavras covardes, não deixando sequer a oportunidade de entender o real motivo da ação. Infelizmente, não se pode cobrar que as pessoas sejam como você acredita ser o certo, ainda mais de como o seu próximo deve ser tratado. Mesmo com essa situação extremamente chata, resolvi me voltar às palavras. Não sou sequer um escritor razoável e acredito que minha capacidade léxica seja bem limitada. No entanto sinto que as poucas e simplórias palavras despejadas nessas frases farão com que eu me sinta melhor.

A ocasião, na verdade, apesar de tola para quem está de fora é muito especial para mim. Hoje, dia 03 de Março de 2014, além de ser aniversário do meu grande tio Roberto (67 aninhos! Parabéns, tio!), é meu aniversário de 20 anos como músico! Sim! Em 1994, com apenas 13 aninhos de idade, ganhava meu primeiro violão Rei Tonante, comprado no extinto Mappin próximo à Rua Direita. Ele tinha cordas de aço com tração (extremamente) alta e eu não soube afiná-lo por, pelo menos, uns 10 meses. Na época pré-internet, era complicado conhecer pessoas que tocavam e que poderiam ensinar como afinar e tudo mais. Mas, acredito que foi o que mais despertou na paixão de querer saber sempre mais.

Há alguns dias conversei com meu amigo Fred sobre como comecei a tocar… Pegava emprestado revistinhas “Toque Fácil”, datilografava (sim, computador não era pra qualquer um) as letras e, na sequência, com uma caneta ponta-porosa, colocava as cifras precisamente sobre a posição igual à revistinha e, ao lado delas, desenha TODAS as cifras para ir guardando na memória. Há 20 anos, ao pegar esse meu primeiro violão, já saiam uns 20 acordes desafinados somente pela lembrança dos desenhos feitos nesse “sistema de estudo”.

O resto é história: algumas aulas de violão clássico, guitarra Fender Stratocaster Southern Cross (Fender brasileira fabricada pela Gianinni), palhetas, pedais, cabos, bandas, composições toscas, outras bandas, composições menos toscas, “More than words” para as menininhas, revistas “Cover Guitarra”, revistas “Guitar World” na banca próxima à ETFSP, tocar no saguão da escola, Modos Gregos, Pentatônicas (sim, aprendi fora de ordem estudando sozinho), IG&T, Blues, Jazz, mais bandas, demos, músicas próprias, lecionando música, abrindo escola de música, tocando na noite, aprendendo a cantar por não achar vocalista pra banda, CD de música própria, mais shows na noite, parceiro de composição, novo CD de música própria, fechando escola de música, instrumentos roubados em um Ano Novo, pausa na música, volta pra música, adquire novos instrumentos, novas bandas, bandas antigas voltando e, finalmente, hoje!

Apesar de (bem) resumida, essa é a descrição desses 20 anos. Diversos pontos como amizades, namoros, casamento e outras escolhas profissionais foram suprimidas, mas ainda estão nas entrelinhas (ou vírgulas, no caso). O mais engraçado é que, sinceramente, parece que foi ontem. Quando você ouve os mais velhos dizendo “o tempo passa muito rápido”, você não consegue sentir o significado disso até, como sempre digo, começar a contar histórias de, no mínimo, uma década atrás.

Bon Jovi, uma das minhas bandas favoritas, hoje é Classic Rock. Assim como The Police, Van Halen, U2, Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden, Stone Temple Pilots, entre outras bandas da minha pré e adolescência. Assusta pensar que o “Use your illusion” do Guns n’ Roses para essa molecada de 15 anos é equivalente ao “Led Zeppelin IV” para mim. É nessas horas que essa jornada começa a tomar forma de anos, meses, dias e, se forçar um pouco a memória, horas mágicas que fizeram parte dela.

Até hoje subir ao palco gera um friozinho na barriga, mesmo tendo perdido a noção de quantas vezes fiz isso. Cada vez que tiro uma música que gosto a emoção é praticamente a mesma, com a diferença apenas da bagagem técnica adquirida ao longo desses anos. A felicidade ao fazer o último acorde de uma música e receber os aplausos é um tipo de conexão única com quem gosta daquilo que está ouvindo. Essas mágicas, apesar de soar um pouco pedante, só um artista consegue realmente sentir. Seja um pintor ao expor seu quadro, um ator ao finalizar sua peça ou filme, ou mesmo aquele cara com violão em algum barzinho que, com certeza, já foi. Só quem já esteve do lado de cá da arte consegue entender esse tipo de sentimento. E, acredite-me, não é fácil de explicar em palavras.

20 anos. Não há maneiras de definir como seria minha vida sem a música nesse tempo. A única certeza que tenho é que, sem a música, eu não existiria. Somente um reflexo tolo, frio e entediante à procura de algo que nunca conheceu.

Por isso, a todos que fizeram parte dessa minha caminhada, de forma direta ou não, meus sinceros agradecimentos pelo simples sorriso ao ouvir uma parte de mim em forma de som.

Obrigado de coração!


Jeff Beck – O último guitar hero

“Lembro a primeira vez em que vi o Jeff tocar. Foi depois de saber que ele tinha conseguido o emprego (no Yardbirds). Entrei escondido em um show – você ainda estava no Tridents, tinha o cabelo até aqui – e todo aquele eco maldito em sua guitarra. Pensei ‘Será que eles sabem no que estão se metendo?’” – (Eric Clapton sobre Jeff Beck na Rolling Stone)

Se Deus está dizendo algo assim, quem somos nós, reles mortais, para discutir…

Tenho que admitir que comecei a conhecer o trabalho do Jeff Beck esse ano. Meu grande tio Clemente (responsável também por me apresentar Stanley Clark e Eric Clapton) foi visitar meu pai que estava doente e ao dar uma carona, ele me emprestou o DVD “Jeff Beck Performing this week… Live at Ronnie Scott’s”. Um ou dois dias depois eu coloquei no meu DVD para ouvir enquanto trabalhava e a palavra mais justa para resumir o que rolou na hora: “Fodeu!”… Fiquei abismado com a maneira como ele trata a guitarra… Cresci ouvindo alguns virtuoses que sempre diziam serem fãs de Jeff, além dos ex-Yardbirds Clapton e Page, mas nunca havia dado a devida atenção ao Beck. Nessas horas que você entende a palavra “arrependimento” na sua plenitude.

Ao ler críticas sobre o DVD, em algumas delas diziam ser o melhor registro filmado da carreira dele. Como sou “calouro”, não posso afirmar o mesmo, mas a qualidade sonora, takes, banda (nada menos que Vinnie Colaiuta e a deliciosa e talentosa Tal Wikenfeld, ambos destruindo tudo ao lado de Jason Rebello nas teclas) e participações (Imogen Heap cantando “Rollin’ and Tumblin’” e outros sons, Joss Stone dando seu toque em “People get Ready”, e claro, Eric Clapton tocando e cantando 2 sons: “Little Brown Bird” e “You need love”). Eu classificaria esse DVD tão obrigatório quanto o “Live at Woodstock” do Hendrix, ou ainda “The song remains the Same” do Led Zeppelin. Não apenas para guitarristas / músicos, mas para quem aprecia uma ótima música. E para minha sorte, logo após decorar esse DVD, veio a notícia do show em São Paulo… Não poderia perder de jeito nenhum…

O show estava agendado antes ainda da confirmação do Paul McCartney e acabaram sendo em datas próximas. Quem leu meu post sobre o show do Paul McCartney sabe que realmente é complicado de se competir. Ainda assim, sabia que mesmo com a euforia do show, iria me arrepender se não fosse. Acabei deixando para última hora para comprar o ingresso, o que me custou um “sold out” da Pista Premium. Ainda assim, tive uma ótima visão do palco.

Burocracias à parte do sistema do Via Funchal (só faltaram pedir exame de fezes para um camarada que iria pagar meia-entrada mesmo com carteirinha e comprovante de pagamento da faculdade – e ainda assim não conseguiu), o atendimento dos funcionários é bem legal mesmo estando na chuvinha chata que caía na cabeça dos seguranças. Já na chegada vi o grande Faíska adentrando a casa. Esta aí um cara que tinha certeza que não faltaria nesse show. Cheguei cedo ao local e fiquei aguardando os 3 camaradas que encontraria para presenciar o espetáculo. Nesse meio-tempo, o repertório foi bem escolhido para fazer ambiente: Chuck Berry, James Brown, Fleetwood Mac, e uma renca de coisa boa. Eis que chegaram Kalil, companheiro de banda Chevy69, e Danny-boy, guitarrero sempre presente nos shows da banda e gente boníssima. Paulo Barboza, meu irmão adotivo por parte de Evolution, chegou um pouco depois.

Batemos um papo, acertamo-nos na pista e fomos informados que “a pedido do artista o show não seria exibido no telão”. Conforme disse Kalil: “o bicho é marrento!”. Sempre ouvi comentários sobre a personalidade dele e foi comprovado nesse momento.

Com cerca de 20 minutos de atraso, Jeff Beck no palco, acompanhado pelo baterista Narada Michal Walden, o tecladista Jason Rebello (mesmo do DVD) e a baixista e vocalista Rhonda Smith, que já se apresentou ao lado de ninguém menos que Prince. Showzaço garantido… Era só ouvir a música “Plan B” de saída que isso estava comprovado!

“Stratus” foi a segunda música, seguida de um dos meus temas instrumentais favoritos, “Led Boots”. Nessa, Beck chamava a galera para alternar um “hey!!!” entre os riffs. Carisma puro do mais clássico guitar hero na face da Terra.

A partir daí, até quem não era músico estava envolvido no show e preparado para o que vinha: “Corpus Christi Carol”, linda canção cantada pelo talentoso (e infelizmente falecido) Jeff Buckley, “Hammerhead”, “Mna Na Eireann” e então um espaço para Rhonda Smith “comer com farinha” o contrabaixo por cerca de 5 insanos minutos de quebradeira. Com a galera embasbacada com a técnica da baixista, Jeff já emenda no repertório “People get ready”, talvez sua canção (ou versão, se utilzado o termo correto) mais mainstream. Todos no Via Funchal pararam para atentamente curtir e cantarolar o riff tão marcante e belo. Até achava que Rhonda cantaria a música, mas as notas eram todas produzidas por Beck, que sabe melhor do que ninguém fazer uma guitarra literalmente falar. “You never know” foi a seguinte, fusion de primeira. A sequência foi “Rollin’ n’ Tumblin’”, cover de Muddy Waters com Rhonda Smith soltando o gogó, “Big Block”, “Somewhere Over The Rainbow”, “Blast From The East”, “Angel” (uma linda balada, diga-se de passagem), “Dirty Mind”, “Brush With The Blues”, e para fechar, a perfeita versão de “A Day in the Life”, gravada originalmente no CD de despedida de George Martin (produtor dos Beatles e com quem Jeff trabalhou em 2 grandes CDs: “Blow by Blow” e “Wired”). O jogo de luzes no final da música foi tão bonito quanto grandioso, tal qual o peso que ele consegue colocar no desfecho da canção!

Aplausos e mais aplausos… Um breve agradecimento… Uma pequena pausa… E claro, o bis…

“I want to take you higher” de Sly & the Family Stone agita a galera e põe o pessoal pra dar aquela dançadinha de leve. Uma homenagem a Les Paul com a música “How high”, na qual para a surpresa de muitos, ele troca a guita por uma Gibson Les Paul para tocar o som. Por último, um som do seu último álbum “Emotion & Commotion”, “Nessun Dorma”. Fiquei esperando um “Cause we’ve ended as lovers”, ou mesmo “Scatterbrain”, mas não foi dessa vez…

Com uma simpatia inesperada (afinal, não é todo artista que encana com o telão), Jeff vai ao microfone, apresenta a (fantástica) banda e diz que adorou tocar pela primeira vez em São Paulo (da última vez, ele esteve no Free Jazz Festival em 1998 no Rio de Janeiro).

O show foi até curto (cerca de 2 horas) se analisarmos que foram quase 20 músicas. No entanto, se você já esteve em algum show de guitarristas como Vai, Satriani e outros, vai entender que é complicado fazer um show onde a atenção do público se mantém mesmo sem conhecer a maioria das músicas. Talvez pela estrada de Jeff Beck nos seus 66 anos de vida isso seja natural para ele. A conclusão que posso chegar de tudo isso é que, como guitarrista, vi uma das maiores lendas da história das 6 cordas, um excepcional músico que deixa sua marca onde quer que haja um registro do seu som, provando ser sutil porém característico, como um gênio normalmente é.

Se você ainda não conhece o Jeff Beck, compre o DVD citado e comece a sua jornada… Tenha certeza: você não vai se arrepender…


Paul McCartney – Up and Coming Tour

“Fun is the one thing that money can’t buy”  – (Lennon/McCartney)

Acabei de receber a ligação de um grande amigo me informando que o segundo show começou com “Magical Mystery Tour”. Resolvi que esse era o momento de escrever sobre o show em que estive presente no domingo, dia 21 de Novembro de 2010.

Paul McCartney - Up and Coming Tour (21/11/2010)

Extraordinário, ou talvez sobrenatural, seria a palavra pra definir o que é um show do Sir James Paul McCartney. Eu resumiria como um show perfeito! Na verdade, o certo talvez seria recomendar que o termo “show” relacionado à música tivesse no dicionário o nome dele.

Tudo começa com a febre de conseguir um ingresso. Nos dias de hoje, a fila mudou de lugar. De centenas de pessoas numa fila de pontos-de-venda migramos para o sistema virtual. Meia-noite a fila que seria dividida em diversos estados e cidades (ou mesmo bairros) concentram-se num site apenas, onde a “corrida” se inicia. Tenta Pista Premium, não dá. Tenta Cadeira Coberta, menos. Aí é o desespero e eis que você consegue uma Arquibancada Azul. “Nossa!!! É muito longe!!”. Não se você considerar que a distância alternativa é sua casa… rsrs… Nesse caso, vale tudo!!! Afinal, não estamos falando de uma banda que aparece a cada 5 anos no país. Estamos falando de assistir presencialmente a um show da lenda viva do Rock mundial que – diga-se de passagem – apenas esteve em terras tupiniquins há 17 anos atrás!!!

No intervalo entre compra de ingressos e show tive vários eventos que me distraíram um pouco e reduziram a ansiedade (ou redirecionaram o foco), como um casório de um quase-irmão meu, trabalho pra caramba no emprego e como freela, além do show de uma das minhas bandas favoritas, o Bon Jovi. Mesmo na semana foi meu aniversário de 30 anos, logo, você consegue se desligar um pouco do show no processo. Eis que tudo isso passa e sábado à noite cai a ficha: eu estaria no dia seguinte vendo (praticamente) o último beatle criativo vivo. (Aos defensores do Ringo: acreditam realmente que um show dele seria mais emocionante do que o do Paul??? Desculpe, mas com certeza não… Adoro o Ringo nos Beatles e o defendo lá! Ponto!).

Foi aí que começou o mix de sentimentos. Ansiedade, curiosidade, um “bocadinho” de frustração pela pista premium não conseguida, suspeita de chuva que poderia incomodar bem no show. Mas nenhuma delas se compara em saber que você faria parte da história (mesmo que com ínfima participação) da maior banda de todos os tempos. Nesse lapso momentâneo de reflexão que realmente “o bicho pega!”.

Além de algumas horas na fila, você finalmente consegue adentrar os portões do estádio. Uma pequena revista policial, catracas, passada rápida ao banheiro (uma saga de horrores e odores), águas e bunda na “cadeira” da arquibancada. Ôlas puxadas pelo pessoal, bexigas pobremente distribuídas com ricas intensões, empurra daqui, cerveja na cabeça (sem querer) dali, vendedor de água e afins com isopor nas suas costas e todo o pacote “show de rock n’ roll em estádio sem camarote VIP de artista global”. Quem quer outra vida??? rsrsrs.

Às 21:10hs, aproximadamente, começa nos telões um vídeo-montagem com diversas fases da carreira de Paul. A Era Cavern Club, Hamburg, Ed Sullivan, filmes como “A Hard Day’s Night” e “Help!”, tudo ao som de várias de versões das músicas dos Beatles por outros artistas e alguns remixes dos sons do próprio Paul. Honrando a famosa pontualidade britânica, o remanescente da dupla Lennon-McCartney entra com sua banda no palco montado no estádio do Morumbi.

Particularmente, eu sou fanzaço da formação que está com ele. Desde que assisti o DVD “Back in the US” em 2002 pela primeira vez fiquei fã de todos. Rusty Anderson dispensa comentários extras tendo em seu currículo participações com  diversos artistas renomados como Elton John, Joe Cocker, Willie Nelson, Jewel e The Wallflowers (curiosidade: a guitarra de “Livin’ la vida loca” de Ricky Martin foi gravada por ele… rs). Bryan Ray me surpreendeu bastante, pois nos DVDs em que o vi, sua presença era muito mais de apoio, o que provou que eu estava completamente mal-informado. Além de fazer guitarras (e solos bem compostos) em diversas músicas também é responsável pelo baixo em diversas canções, respeitando as linhas criadas pelo patrão. Ele também já foi guitarrista de Joe Cocker e Peter Frampton, além do eterno (realmente, ele não morre!!!) Keith Richards. Paul “Wix” Wickens é o tecladista e responsável pela direção musical da banda e único remanescente da antiga formação, trabalhando há 21 anos com Paul. O cara já trampou com o David Gilmour, o que pra mim já resume o currículo nessas 2 palavras. Deixei por último o que mais me surpreende cada vez que o vejo: Abe Laboriel Jr. É um absurdo ouvir e ver esse monstro em ação. Pegada incisiva, respeito às composições originais, tanto dos Beatles quanto do Paul mesmo, além de bom gosto nas improvisações/adaptações. Impagável vê-lo dançando no show ao som de “Dance tonight”, levando o estádio inteiro às gargalhadas. No currículo dessa fera estão nomes pequenos: Eric Clapton, Les Paul, Steve Vai, Seal e (pasme) até Lady Gaga. Time formado (há tempos) e entrosado. Já era de se esperar o show que estava à nossa frente.

Com um repertório bem mesclado, Paul sobe ao palco exatamente às 21:30hs e começa o espetáculo. “Venus and Mars” suavemente nos ambienta e prepara o público suavemente. “Rockshow” começa a esquentar o pessoal e, como que por magia, uma virada nos leva a “Jet”. Começa a cair sua ficha de onde você está!!! “P*##@!!! Eu to no show do Paul McCartney!!!”. Aí não tem mais volta… O mix de emoções toma conta. Sua garganta é fraca perto do que você quer gritar pra cantar junto. É nessa música que percebemos que, ao mesmo tempo em que ouvimos um p@#4 som, estamos tendo uma aula do que é o rock ao longo dos tempos. É o primeiro momento onde o estádio se junta cantando “Ooohh’s”.

Primeira pausa, um pouco de português (mesmo que consultado) que o ex-beatle nos direciona, com uma simpatia que idioma qualquer a transpareceria, ele dá as boas-vindas e em seguida tira qualquer dúvida do porquê de mais de 60 mil pessoas estavarem ali: “All my loving”. A primeira lágrima corre. O sentimento de satisfação pessoal de ver o criador executando sua obra. Aquela exata música já foi emanada de sua garganta centenas de vezes em casa, no trabalho, no carro, ou mesmo num palco com menor magnitude, tocada de maneira amadora, sincera e emocionada. Em seguida, “Letting Go”. A galera dá uma leve caída no ritmo até que se ouve o riff de “Drive my car”. Novamente, “P#@$ que o pariu! Tô no show do Paul!!! C@#$lho!!! Beeh beeh Beeh beeh, yeah”. “Highway” em seguida que, apesar de ser menos conhecida, leva a galera gritar no refrão como uma boa canção pop deve ser.

Desse ponto em diante, a sequência de clássicos não parou. “Let me roll it”, “Long and winding road” (confesso que achei que nunca veria essa música ao vivo mais do qualquer outra e fiquei extremamente feliz de ele ter tocado). “1985” e “Let me in” foram as próximas, até um momento emocionante da noite. Antes de tocar a linda canção “My Love”, Paul solta em português: “Essa música é para minha gatinha, Linda, mas essa noite é para todos os namorados”, com o sotaque digno de um gringo se esforçando. Mais lágrimas correm ao abraçar minha noiva e dançarmos ao som.

A primeira sessão acústica começa com “I’ve just seen a face”, outra que adorei ouvir. “And I love her” e “Blackbird” fizeram o estádio cantar junto. “Here today” é a música que ele fez para John Lennon, levando o estádio a gritar o nome do falecido beatle antes do início da mesma. Olhando ao redor, você vê pessoas discretamente chorando por lembrar a perda que o mundo da música teve. Sem deixar a peteca cair, “Dance tonight” (com Abe mostrando toda sua ginga.. rs), e outro clássico do álbum “Band on the run”, “Mrs. Vanderblit”.

“Eleanor Rigby” não precisa de nenhum comentário por si só. Então, assim como na música para Lennon, Paul anuncia que fará uma em homenagem a George Harrison. Nesse momento, agradeci a Deus por não ter pesquisado nada sobre o show previamente, tentando manter aquela surpresinha que você ainda tinha na época pré-internet. Apesar de já ter ouvido a versão “Something” dos DVDs, não tinha a menor idéia do que me esperava:

Não conseguiria descrever o sentimento que tive ao final da ponte quando toda a banda se junta a Paul, já com o maravilhoso e único solo criado por Harrison para o álbum Abbey Road. Minha admiração por Rusty se justifica nesse momento com respeito a cada nota do solo (se um solo é perfeito, o simples fato de você o reproduzir já é um mérito!). Brian Ray duplicando cada nota do baixo criado por Paul na gravação original. Perfeito! Não consegui segurar a emoção e lágrimas e soluços tomaram conta de mim… Sentia-me uma criança que ganhava aquele brinquedo que tanto esperava e ao mesmo tempo o lembrava de um ente perdido ao pegá-lo em mãos. Juro que não consigo transcrever o sentimento.

Estava tão extasiado que nem dei conta de “Sing the changes”. Só voltei à razão quando percebi o beat no ritmo de “Band on the run” começando. Ao ouvir o riff de guitarra, soltei a frase mais sincera possível: “Já posso morrer feliz!”. De longe, essa é a minha música favorita da carreira solo de McCartney. A progressão rítmica e harmônica prova a genialidade que só um ser iluminado conseguiria ter.

“Obla Di Obla Da”, “Back in the USSR”, “I’ve got a feeling”, “Paperback Writer” deram continuidade a sessão de clássicos. Para a minha surpresa (novamente), ouço a introdução de “A Day in the life”. Incrível! Mesmo sendo uma “música do Lennon”, foi demais ver Paul  tocando. Ainda mais emendando com “Give peace a chance”, regada a balões brancos voando pela pista e arquibancadas. Você percebe que até Paul estava surpreso com a atitude do público.

A música que segue tem um significado extra pra mim. “Let it be” é a música que cresci ouvindo minha mãe dizer o quanto era especial. Inclusive, ela gostaria de ter entrado na igreja em seu casamento com essa melodia, mas o padre na época proibiu (looonga história.. rs). A tecnologia me permitiu ligar para ela às 23:30hs para que ouvisse a música inteira. Acredito que era o mínimo que poderia fazer uma vez que ela não quis ir ao show.

“Live and let die” é uma porrada na cara, com direito a fogos de artifício e tudo mais. Encenando como se estivesse velho demais para aguentar a música, McCartney troca de piano, faz um Fá maior e puxa o hino do “sing along”, fazendo o estádio (com certeza inteiro) cantar: “Hey jude”. Numa versão de cerca de 10 minutos, duvido que alguém naquele estádio não se daria por satisfeito após presenciar esse momento.

Após uma pequena pausa, ouvimos o riff clássico de “Day Tripper”, seguido de “Lady Madonna”, e “Get Back” fecha o primeiro bis.

Paul e Wix voltam para o grand finalle com as bandeiras do Brasil e Inglaterra, respectivamente. Paul pega o violão e faz a música mais tocada de todos os tempos, “Yesterday”. Estádio inteiro canta com ele e se prepara para as últimas músicas. “Helter Skelter” vem lavar a alma de qualquer fã do “White Album”, e pra finalizar, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) / The End”. Apesar do “belo tombo” que Sir Paul McCartney tomou logo que saía do palco com os presentes entregues pelo público, percebe-se do que um showman é feito: levanta e ergue os braços para o público, que vai ao delírio. Pronto!

Se você leu até esse momento, agradeço desde já! Sei que o texto é longo e talvez eu tenha sido prolixo, mas queria deixar essa lembrança até mesmo para que eu possa ver no futuro. Além disso, gostaria de compartilhar um momento tão especial. Beatles, sem nenhuma comparação, foi a melhor banda de Pop-Rock de todos os tempos. Não é qualquer banda que consegue após 40 anos de sua separação estar no Top 10 de uma década como artista que mais venderam álbuns. Toda a mitologia criada, toda a história vivida por eles (e seus fãs), as composições geniais que são, se você analisar friamente, de “caipiras da Inglaterra”! Tudo o que se refere a eles é rodeado de uma energia única. Desculpe os fãs de outras bandas, mas não há realmente como comparar.

Acredito que cada um dos 60 mil presentes no estádio nesse domingo (e na segunda) tem uma opinião sobre o show, sentimentos que viveram, lembranças que voltaram ao som dos acordes. Posso até ter esquecido de algum detalhe, ou mesmo trocado as bolas quanto a alguma sequência de eventos…Sei que muito mais poderia se escrito… Muito mais mesmo… Mas fica apenas esse humilde relato do que foi estar presente no show da maior lenda viva da história da música popular mundial. Agradeço a Deus (seja lá como você o chama), aos amigos que compartilharam o momento, família, Carol, e ao próprio Paul McCartney (que nunca lerá esse texto) por ter me provido um dos dias mais marcantes da minha vida.

Acho que é isso…


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