“Fun is the one thing that money can’t buy” – (Lennon/McCartney)
Acabei de receber a ligação de um grande amigo me informando que o segundo show começou com “Magical Mystery Tour”. Resolvi que esse era o momento de escrever sobre o show em que estive presente no domingo, dia 21 de Novembro de 2010.
Extraordinário, ou talvez sobrenatural, seria a palavra pra definir o que é um show do Sir James Paul McCartney. Eu resumiria como um show perfeito! Na verdade, o certo talvez seria recomendar que o termo “show” relacionado à música tivesse no dicionário o nome dele.
Tudo começa com a febre de conseguir um ingresso. Nos dias de hoje, a fila mudou de lugar. De centenas de pessoas numa fila de pontos-de-venda migramos para o sistema virtual. Meia-noite a fila que seria dividida em diversos estados e cidades (ou mesmo bairros) concentram-se num site apenas, onde a “corrida” se inicia. Tenta Pista Premium, não dá. Tenta Cadeira Coberta, menos. Aí é o desespero e eis que você consegue uma Arquibancada Azul. “Nossa!!! É muito longe!!”. Não se você considerar que a distância alternativa é sua casa… rsrs… Nesse caso, vale tudo!!! Afinal, não estamos falando de uma banda que aparece a cada 5 anos no país. Estamos falando de assistir presencialmente a um show da lenda viva do Rock mundial que – diga-se de passagem – apenas esteve em terras tupiniquins há 17 anos atrás!!!
No intervalo entre compra de ingressos e show tive vários eventos que me distraíram um pouco e reduziram a ansiedade (ou redirecionaram o foco), como um casório de um quase-irmão meu, trabalho pra caramba no emprego e como freela, além do show de uma das minhas bandas favoritas, o Bon Jovi. Mesmo na semana foi meu aniversário de 30 anos, logo, você consegue se desligar um pouco do show no processo. Eis que tudo isso passa e sábado à noite cai a ficha: eu estaria no dia seguinte vendo (praticamente) o último beatle criativo vivo. (Aos defensores do Ringo: acreditam realmente que um show dele seria mais emocionante do que o do Paul??? Desculpe, mas com certeza não… Adoro o Ringo nos Beatles e o defendo lá! Ponto!).
Foi aí que começou o mix de sentimentos. Ansiedade, curiosidade, um “bocadinho” de frustração pela pista premium não conseguida, suspeita de chuva que poderia incomodar bem no show. Mas nenhuma delas se compara em saber que você faria parte da história (mesmo que com ínfima participação) da maior banda de todos os tempos. Nesse lapso momentâneo de reflexão que realmente “o bicho pega!”.
Além de algumas horas na fila, você finalmente consegue adentrar os portões do estádio. Uma pequena revista policial, catracas, passada rápida ao banheiro (uma saga de horrores e odores), águas e bunda na “cadeira” da arquibancada. Ôlas puxadas pelo pessoal, bexigas pobremente distribuídas com ricas intensões, empurra daqui, cerveja na cabeça (sem querer) dali, vendedor de água e afins com isopor nas suas costas e todo o pacote “show de rock n’ roll em estádio sem camarote VIP de artista global”. Quem quer outra vida??? rsrsrs.
Às 21:10hs, aproximadamente, começa nos telões um vídeo-montagem com diversas fases da carreira de Paul. A Era Cavern Club, Hamburg, Ed Sullivan, filmes como “A Hard Day’s Night” e “Help!”, tudo ao som de várias de versões das músicas dos Beatles por outros artistas e alguns remixes dos sons do próprio Paul. Honrando a famosa pontualidade britânica, o remanescente da dupla Lennon-McCartney entra com sua banda no palco montado no estádio do Morumbi.
Particularmente, eu sou fanzaço da formação que está com ele. Desde que assisti o DVD “Back in the US” em 2002 pela primeira vez fiquei fã de todos. Rusty Anderson dispensa comentários extras tendo em seu currículo participações com diversos artistas renomados como Elton John, Joe Cocker, Willie Nelson, Jewel e The Wallflowers (curiosidade: a guitarra de “Livin’ la vida loca” de Ricky Martin foi gravada por ele… rs). Bryan Ray me surpreendeu bastante, pois nos DVDs em que o vi, sua presença era muito mais de apoio, o que provou que eu estava completamente mal-informado. Além de fazer guitarras (e solos bem compostos) em diversas músicas também é responsável pelo baixo em diversas canções, respeitando as linhas criadas pelo patrão. Ele também já foi guitarrista de Joe Cocker e Peter Frampton, além do eterno (realmente, ele não morre!!!) Keith Richards. Paul “Wix” Wickens é o tecladista e responsável pela direção musical da banda e único remanescente da antiga formação, trabalhando há 21 anos com Paul. O cara já trampou com o David Gilmour, o que pra mim já resume o currículo nessas 2 palavras. Deixei por último o que mais me surpreende cada vez que o vejo: Abe Laboriel Jr. É um absurdo ouvir e ver esse monstro em ação. Pegada incisiva, respeito às composições originais, tanto dos Beatles quanto do Paul mesmo, além de bom gosto nas improvisações/adaptações. Impagável vê-lo dançando no show ao som de “Dance tonight”, levando o estádio inteiro às gargalhadas. No currículo dessa fera estão nomes pequenos: Eric Clapton, Les Paul, Steve Vai, Seal e (pasme) até Lady Gaga. Time formado (há tempos) e entrosado. Já era de se esperar o show que estava à nossa frente.
Com um repertório bem mesclado, Paul sobe ao palco exatamente às 21:30hs e começa o espetáculo. “Venus and Mars” suavemente nos ambienta e prepara o público suavemente. “Rockshow” começa a esquentar o pessoal e, como que por magia, uma virada nos leva a “Jet”. Começa a cair sua ficha de onde você está!!! “P*##@!!! Eu to no show do Paul McCartney!!!”. Aí não tem mais volta… O mix de emoções toma conta. Sua garganta é fraca perto do que você quer gritar pra cantar junto. É nessa música que percebemos que, ao mesmo tempo em que ouvimos um p@#4 som, estamos tendo uma aula do que é o rock ao longo dos tempos. É o primeiro momento onde o estádio se junta cantando “Ooohh’s”.
Primeira pausa, um pouco de português (mesmo que consultado) que o ex-beatle nos direciona, com uma simpatia que idioma qualquer a transpareceria, ele dá as boas-vindas e em seguida tira qualquer dúvida do porquê de mais de 60 mil pessoas estavarem ali: “All my loving”. A primeira lágrima corre. O sentimento de satisfação pessoal de ver o criador executando sua obra. Aquela exata música já foi emanada de sua garganta centenas de vezes em casa, no trabalho, no carro, ou mesmo num palco com menor magnitude, tocada de maneira amadora, sincera e emocionada. Em seguida, “Letting Go”. A galera dá uma leve caída no ritmo até que se ouve o riff de “Drive my car”. Novamente, “P#@$ que o pariu! Tô no show do Paul!!! C@#$lho!!! Beeh beeh Beeh beeh, yeah”. “Highway” em seguida que, apesar de ser menos conhecida, leva a galera gritar no refrão como uma boa canção pop deve ser.
Desse ponto em diante, a sequência de clássicos não parou. “Let me roll it”, “Long and winding road” (confesso que achei que nunca veria essa música ao vivo mais do qualquer outra e fiquei extremamente feliz de ele ter tocado). “1985” e “Let me in” foram as próximas, até um momento emocionante da noite. Antes de tocar a linda canção “My Love”, Paul solta em português: “Essa música é para minha gatinha, Linda, mas essa noite é para todos os namorados”, com o sotaque digno de um gringo se esforçando. Mais lágrimas correm ao abraçar minha noiva e dançarmos ao som.
A primeira sessão acústica começa com “I’ve just seen a face”, outra que adorei ouvir. “And I love her” e “Blackbird” fizeram o estádio cantar junto. “Here today” é a música que ele fez para John Lennon, levando o estádio a gritar o nome do falecido beatle antes do início da mesma. Olhando ao redor, você vê pessoas discretamente chorando por lembrar a perda que o mundo da música teve. Sem deixar a peteca cair, “Dance tonight” (com Abe mostrando toda sua ginga.. rs), e outro clássico do álbum “Band on the run”, “Mrs. Vanderblit”.
“Eleanor Rigby” não precisa de nenhum comentário por si só. Então, assim como na música para Lennon, Paul anuncia que fará uma em homenagem a George Harrison. Nesse momento, agradeci a Deus por não ter pesquisado nada sobre o show previamente, tentando manter aquela surpresinha que você ainda tinha na época pré-internet. Apesar de já ter ouvido a versão “Something” dos DVDs, não tinha a menor idéia do que me esperava:
Não conseguiria descrever o sentimento que tive ao final da ponte quando toda a banda se junta a Paul, já com o maravilhoso e único solo criado por Harrison para o álbum Abbey Road. Minha admiração por Rusty se justifica nesse momento com respeito a cada nota do solo (se um solo é perfeito, o simples fato de você o reproduzir já é um mérito!). Brian Ray duplicando cada nota do baixo criado por Paul na gravação original. Perfeito! Não consegui segurar a emoção e lágrimas e soluços tomaram conta de mim… Sentia-me uma criança que ganhava aquele brinquedo que tanto esperava e ao mesmo tempo o lembrava de um ente perdido ao pegá-lo em mãos. Juro que não consigo transcrever o sentimento.
Estava tão extasiado que nem dei conta de “Sing the changes”. Só voltei à razão quando percebi o beat no ritmo de “Band on the run” começando. Ao ouvir o riff de guitarra, soltei a frase mais sincera possível: “Já posso morrer feliz!”. De longe, essa é a minha música favorita da carreira solo de McCartney. A progressão rítmica e harmônica prova a genialidade que só um ser iluminado conseguiria ter.
“Obla Di Obla Da”, “Back in the USSR”, “I’ve got a feeling”, “Paperback Writer” deram continuidade a sessão de clássicos. Para a minha surpresa (novamente), ouço a introdução de “A Day in the life”. Incrível! Mesmo sendo uma “música do Lennon”, foi demais ver Paul tocando. Ainda mais emendando com “Give peace a chance”, regada a balões brancos voando pela pista e arquibancadas. Você percebe que até Paul estava surpreso com a atitude do público.
A música que segue tem um significado extra pra mim. “Let it be” é a música que cresci ouvindo minha mãe dizer o quanto era especial. Inclusive, ela gostaria de ter entrado na igreja em seu casamento com essa melodia, mas o padre na época proibiu (looonga história.. rs). A tecnologia me permitiu ligar para ela às 23:30hs para que ouvisse a música inteira. Acredito que era o mínimo que poderia fazer uma vez que ela não quis ir ao show.
“Live and let die” é uma porrada na cara, com direito a fogos de artifício e tudo mais. Encenando como se estivesse velho demais para aguentar a música, McCartney troca de piano, faz um Fá maior e puxa o hino do “sing along”, fazendo o estádio (com certeza inteiro) cantar: “Hey jude”. Numa versão de cerca de 10 minutos, duvido que alguém naquele estádio não se daria por satisfeito após presenciar esse momento.
Após uma pequena pausa, ouvimos o riff clássico de “Day Tripper”, seguido de “Lady Madonna”, e “Get Back” fecha o primeiro bis.
Paul e Wix voltam para o grand finalle com as bandeiras do Brasil e Inglaterra, respectivamente. Paul pega o violão e faz a música mais tocada de todos os tempos, “Yesterday”. Estádio inteiro canta com ele e se prepara para as últimas músicas. “Helter Skelter” vem lavar a alma de qualquer fã do “White Album”, e pra finalizar, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) / The End”. Apesar do “belo tombo” que Sir Paul McCartney tomou logo que saía do palco com os presentes entregues pelo público, percebe-se do que um showman é feito: levanta e ergue os braços para o público, que vai ao delírio. Pronto!
Se você leu até esse momento, agradeço desde já! Sei que o texto é longo e talvez eu tenha sido prolixo, mas queria deixar essa lembrança até mesmo para que eu possa ver no futuro. Além disso, gostaria de compartilhar um momento tão especial. Beatles, sem nenhuma comparação, foi a melhor banda de Pop-Rock de todos os tempos. Não é qualquer banda que consegue após 40 anos de sua separação estar no Top 10 de uma década como artista que mais venderam álbuns. Toda a mitologia criada, toda a história vivida por eles (e seus fãs), as composições geniais que são, se você analisar friamente, de “caipiras da Inglaterra”! Tudo o que se refere a eles é rodeado de uma energia única. Desculpe os fãs de outras bandas, mas não há realmente como comparar.
Acredito que cada um dos 60 mil presentes no estádio nesse domingo (e na segunda) tem uma opinião sobre o show, sentimentos que viveram, lembranças que voltaram ao som dos acordes. Posso até ter esquecido de algum detalhe, ou mesmo trocado as bolas quanto a alguma sequência de eventos…Sei que muito mais poderia se escrito… Muito mais mesmo… Mas fica apenas esse humilde relato do que foi estar presente no show da maior lenda viva da história da música popular mundial. Agradeço a Deus (seja lá como você o chama), aos amigos que compartilharam o momento, família, Carol, e ao próprio Paul McCartney (que nunca lerá esse texto) por ter me provido um dos dias mais marcantes da minha vida.
Acho que é isso…
November 23rd, 2010 on 12:35
Querido “Giuseppi”.
Como não se emocionar e “querer estar” junto, ao ler seu relato, ou melhor, parte da memória que ficou e ficará para sempre gravada em ti? Me arrependo de várias coisas, entre elas, de não assistir ao vivo um show do Rush e de Sir Paul, por exemplo.
Aprendi a gostar dos Beatles. Aprendi a reverenciar os Beatles (sem excessos). A cada frase, cada parágrafo, dá para sentir sua emoção e, sobretudo, alegria em estar alí, diante de um ídolo. Eu tenho alguns. E eles, de alguma forma, nos levam em certos momentos a um tempo que “já foi” mas, diante de suas obras, sempre estarão presentes.
Emocionar-se num show como este, cantar, vibrar, suar, rir, chorar etc nos traz de volta uma certa “inocência” de colocar um disco na vitrola e passar horas e horas ouvindo algo que nos recheia de emoções.
Fico MUITO feliz por ti ao ler suas palavras. São sinceras, vivas, vibrantes. Que bom que você estava lá.
November 23rd, 2010 on 21:38
Ok. Eu chorei. E nem vi o show.
Abraço!
November 25th, 2010 on 01:29
Pois é, meu caro Rolito!!!
Não dá para descrever a sensação. O fatod e eu já tê-lo visto em 1993 não fez a menor diferença.
O cara está tão impregnado na nossa memória afetiva que o show transcende a simples esfera musical!
And in the end, the love you take, is equal to the love you make!!!
Abraço
December 15th, 2010 on 16:13
Li o seu post + de 1 vez e me coloquei no seu lugar sentindo todas as emoções que você passou no show do Sir Paul McCartney e chorei muito! Deve ter sido incrível mesmo, o que me levou um baita arrependimento por não ter ido ao show do século! Mas como a esperança é a última que morre, quem sabe no seu último show da vida, ele aos 80 anos e eu(nós)aos 40. Com certeza a nossa emoção vai ser o quádruplo!!!
Beijos Amigão!