“Eles podem ser grandes pessoas, Kal-el… Eles desejam ser… ” – (Jor-El, interpretado pelo eterno Marlon Brando no filme Superman de 1977)
Ao contrário dos outros posts, peço apenas a você, amigo / leitor, que tente lê-lo com duas situações em vista:
- um mundo mais justo, talvez com heróis com ou sem poderes, seria muito melhor.
- um pouco de fantasia não faz mal a ninguém e você acredita nisso (mesmo que no seu dia-a-dia não). Entre no “faz-de-conta” e divirta-se.
Estou para fazer esse post há mais de 4 meses. Sim! Se você não sabe, Smallville acabou no dia 13 de Maio (recomendo ler o post mais imparcial do site Omelete). Alguns fatores me levaram a demorar tanto: uma neurose de rever TODOS EPISÓDIOS das 10 temporadas, um obsessão de pesquisar sobre diversos personagens na mitologia, além de um paralelo (assistindo 2 temporadas) para entender o porquê de Lois & Clark não ter tido o sucesso da série do menino super-poderoso de Pequenópolis. Ah, e lógico: um ciclo de trabalhos que quase não me permitiu aguentar o tranco. Para não enlouquecer com a correria em que vivo no momento, resolvi parar um tempo e escrever esse post… Por isso, aqui estamos…
Não dei muita bola quando ouvi o nome “Smallville” pela primeira vez. Não associei ao herói. Um dia, alguém me explicou que era a história do Clark Kent ainda em sua cidade Natal. Realmente fiquei interessado, uma vez que nos filmes só tínhamos um “resumo” do que era sua vida lá. Alfred Gough & Miles Millar arriscaram certeiramente ao trabalhar o conceito.
Você pode não ser fã de Superman, mas não há como negar que o Piloto da série é um dos melhores retratos do herói enquanto ser habitante da Terra. A maneira como trabalharam o relacionamento com os pais, amigos de escola, Lana Lang e sua fraqueza-mor: kryptonita verde. Isso tudo contextualizado à realidade dos dias de hoje, onde temos internet, celulares e diversas outras tecnologias. Isso, acredito, foi muito bem inserido nessa versão da mitologia. A história é contada de uma maneira tão crível (lembre-se dos pontos do começo do post) que é aceitável até a inserção de Lex Luthor como alguém próximo à idade de Clark e residente em Smallville.
Durante a série tivemos diversos altos e baixos (como em qualquer série que consegue durar mais do que 5 anos). As primeiras 3 temporadas são ótimas e caminhavam para algo fiel ao que conhecemos. À partir da 4ª temporada começamos a sentir a tendência da série. Lois Lane entra na parada mostrando que o que conhecemos caminhava para algo diferente. A princípio eu sempre achei que a idéia era a série terminar enquanto “Smallville” e, uma vez que ele se tornasse Superman, a série viraria algo como “Metropolis” e continuariam ainda com Tom Welling a história por lá. Não foi assim, mas não posso dizer que não gostei do destino. A jornada que comprometeu um pouco…
Lex Luthor, Lana Lang, Lois Lane (incrível a quantidade de “LL”, não? rs), Perry White, Oliver Queen (Arqueiro Verde), Jimmy Olsen (bela maneira de retratar, by the way), Zod, Arthur Curry (Aquaman), Bart Allen (Impulso, em uma das realidades filho do Flash), entre centenas de outros personagens como a Sociedade de Justiça da América e a Legião. A cada aparição percebíamos a melhora da história do episódio e consequentemente, ápices na série. Sinceramente, a série não atingiu o nível de estabilidade de comédias em geral por conta dos “apelos” dos roteiritas e produtos ao longo dela. Personagens como Apocalipse (Doomsday) aparecendo e forçar a barra entre Lana Lang e Lex Luthor (momento Dawnson’s Creek da série) realmente derrubaram a audiência e paciência de fãs da série. Tanto que os índices são claros depois da 4ª temporada. Uma vez que resolveram parar com essas “baboseiras” a série voltou aos seus eixos. Eu compararia as 2 últimas temporadas ao mesmo nível das 3 primeiras.
Alguns pontos que acho muito legal em Smallvile e devem ser destacados:
- Clark Kent foi tratado na série como um humano com super-poderes, mas acima de tudo, um humano. As dúvidas e questionamentos que surgem ao longo dos episódios, ao meu ver, encaminham seu destino a se tornar o salvador da humanidade. Você consegue ter empatia pelo personagem e, apesar de todas as perdas e resgate de poderes ao longo da série, ainda assim monta sua personalidade enquanto ser superior e justo. Uma música que mostra isso perfeitamente é “Superman” da banda Five for Fighting. Vale a pena!
- Lex Luthor não é um cara mal por natureza. O ambiente e escolhas feitas que o tornam um dos maiores inimigos da história dos quadrinhos. Assim como Clark, nós vemos sua jornada culminar no vilão que todos conhecemos (seja por qual mídia for).
- Não importa o quão legal um herói seja, o que o faz ser o que é são seus inimigos. Isso Smallville soube retratar na sua maioria das vezes (por favor, Apocalipse só faltava o zíper do Spectroman para ser pior) perfeitamente. Além do próprio Lex Luthor, muitos apareceram para encaminhá-lo para seu destino. Nas “pesquisas”, é o que me leva a crer o fracasso da série predecessora “Lois & Clark”, onde tínhamos inimigos até conhecidos na mitologia do herói, mas retratados mais para a comédia do que para ficção em si.
- Como pôde durante todos esses anos “a melhor repórter do incrível Planeta Diário e uma das melhores do mundo” não conseguir perceber que Clark Kent e Superman são a mesma pessoa? Para mim, sempre foi um ponto a se destacar. Apesar de Margot Kidder ser a única que conseguiu esse feito ser possível (assista os filmes de Richard Donner e repare que ela praticamente não olha para ele, sempre de relance e já com o preconceito), Teri Hatcher e Noel Neil (principalmente a primeira) seriam perfeitas imbecis se não descobrissem quase de imediato a verdade. Em Smallville eles conseguiram torná-la menos idiota e fazer jus à fama da personagem. Apesar de ousado, acredito que essa seria o verdadeiro mérito de Lois Lane: descobrir até quem era o misterioso salvador com o símbolo S. Mesmo com todo o medo que tinha da cagada que poderiam fazer, ganhou meu respeito por terem quebrado esse estigma defasado da mitologia do Superman. Ponto para os roteiristas!
- Mesmo com falhas, analisando toda a série, conseguiram finalizar mantendo a idéia original e, apesar de todas as falhas no meio do caminho que é comum numa série de ficção tão extensa (vide “Arquivos X”), abriraram e fecharam com chave de ouro. Deveram um pouco aos fãs ver Tom Welling realmente vestido com a fantasia (no último episódio não temos uma visão total frontal, lateral ou sequer real, apenas CG), mas não compromete o intuito que é mostrar antes de se tornar Superman. Vale muito à pena ainda assim.
Quanto pensei em escrever esse post, tinha centenas de idéias e contextos para embasá-lo. No entanto, além de demorar de mais para fazê-lo, nunca acharia o caminho perfeito para terminá-lo. Portanto, resolvi trazê-lo mais para o pessoal como sempre fiz nos meus post ao invés de trabalhar uma análise fria e absoluta.
Há um mês mais ou menos vi um retweet da opinião de Grant Morrison sobre a diferença entre o Batman e Superman: “Superman passou a infância colhendo feno em uma fazenda e é um herói da classe operária, por isso as pessoas não gostam dele. Já o Batman é um bilionário que dorme até as três da tarde, veste uma roupa de borracha e sai pra dar porrada nos pobres.”. Ressalvas à análise social, mas a idéia é brilhante! Todos nós podemos ser o Batman (vide Sheldon Cooper sobre isso… rs) com as ferramentas apropriadas, mas nunca poderemos ser o Superman. Além de super-poderes, ele é um “Jesus Cristo fictício”, ou seja, nunca nos decepcionará tal qual nunca seremos como ele. Ele é um ideal intocável. Achar o meio-termo entre isso e sua humanidade é o que Smallville consegue fazer… Durante a série temos diversos exemplos do que aconteceria se Clark Kent se desvirtuasse de seu caminho, e o fato dele ter crescido numa fazenda com ótimos pais que eram Jonathan e Martha Kent o encaminhou para o bem.
É normal ouvir as pessoas dizendo “Superman não tem graça! Ele pode tudo!”. Por muito tempo eu pensei assim… No entanto, não é esse aspecto que pego do personagem… É seu senso de justiça, de melhorar sempre e em momento algum fazer o mal ao próximo. Preservar a vida acima de tudo e utilizar seus dons para algo bom para humanidade e seu próximo. Alguém já ouviu esses preceitos em alguma religião? rsrsrs… Brincadeiras à parte, para mim é isso que temos de levar do Superman.
Fale o que for, mas é muito comum vermos crianças adorando Superman, querendo voar e ter poderes… Muitas delas por sofrer o famoso bullying na escola (essas adorariam mais ser o Batman pra descer o cacete nos moleques), outras por ainda serem puras suficiente para acreditar na bondade. Em verdade, não seria melhor todos pensarmos assim? A vida nos inflinge diversas atrocidades que nos faz deixar de acreditar até em algo maior. Existindo Deus ou não (não me importa sua religião nesse contexto… mesmo…), pensar que podemos ser melhores e mais justos não faz mal a ninguém… E, sinceramente, isso que está faltando no mundo…
A base do que é o Superman é resultado de amigos bons, experiências boas com os que o rodeiam e, principalmente, educação! Isso faz com que ele seja quem é… Com ou sem poderes (como é demonstrado na série), ele é o Superman. A perfeita definição de “incrível” se encaixa ao personagem, com ou sem poderes. Somos humanos e falhos, por isso não conseguimos acreditar existir alguém como ele… Mas sendo através do Superman, Jesus, Alá, Budda, Bob Esponja, ou qualquer outro personagem do mundo, é sempre possível querer ser melhor… Basta você acreditar e tentar…
Filosofias à parte: se você começou a ver Smallville e parou no meio do caminho (diria entre a 5ª e 8ª temporada), tente assistir todas e finalize a saga. Vale muito à pena.
Acho que é isso… Desculpe pelo sentimentalismo barato em algumas partes, mas estava precisando jogar essas besteiras para fora… rsrs… Espero que tenha gostado e, como sempre, comente… A idéia desse blog é ser como uma conversa descontraída num café no trampo, ou ainda, uma bela cerveja com amigos no bar… Sem vocês, são só palavras largadas…
Abraços e sinceros agradecimentos se chegou até aqui… “Up, up and away!”