“É perigoso ter razão quando o governo está errado.” – (Voltaire)
Uma vez eu estava almoçando com um grupo de amigos e clientes. Um deles, que considero bastante e respeito pelo seu conhecimento, disse-me que não entendia como era possível ele ter computador, celular, agenda, palm, liberdade e não conseguia se organizar, enquanto o Marcola administrava o PCC inteiro com apenas uma caneta, caderno e telefone. Se ele que era uma pessoa que entendia de diversos assuntos nunca havia ponderado a situação, acredito que muitas outras não. Nesse momento eu disse a ele o que acreditava (e hoje, mais do que nunca, tenho certeza): o Marcola não passa de um RP. Realmente é impossível alguém conseguir tamanha façanha com recursos tão limitados. A pergunta é: quem então é responsável? Aí que entra o filme supracitado “Tropa de Elite 2“.
O foco do filme foi completamente mudado em relação ao primeiro. Enquanto no Tropa 01 você tinha um “tapa na cara” da classe média, mostrando que o patrocinador e maior responsável pelos problemas de tráfico era o consumidor, nesse há o resultado do ciclo. Jargões à parte (“Quem quer riz, faz rir”, “Bota ele no saco”, etc), o filme é cativante do começo ao fim. José Padilla repete o formato de ação com extremo bom gosto, respeitando a história e não deixando a desejar em relação às mega-produções hollywoodianas, salvo budget que não há comparação. Até geram indignação ao ver o início do filme como um carro de rally com tanta propaganda). Wagner Moura mantém seu estilo “Pede pra sair” e vemos no segundo filme que o personagem treinou bem o de André “Matias” Ramiro.
Em uma época onde estamos com Tiririca ganhando, Mulheres Frutas, moleques (também) frutas de bandinhas efêmeras do início do milênio, um ex-prefeito-ex-governador tentando se eleger sobre escândalos e um fantoche oco do sistema operante, assistir a esse filme faz pensar bastante.
Vemos um paralelo muito forte com o que temos na realidade brasileira nos dias de hoje: favelas tomando conta das cidades (no caso, Rio de Janeiro), políticos corruptos (quase pleonasmo utilizar essas 2 palavras juntas nos dias de hoje), apresentadores de TV que se aproveitam da miséria e violência para fazer sua fortuna, abuso de poder e falta de treinamento da polícia, entre diversos outros. O diretor consegue manter todos esses elementos se cruzando durante o filme para o desfecho realmente fazer você sair conectando esses itens ao seu cotidiano. No meu caso, a sensação que me gerou ao final é de frustração. Não é revolta… Acredito que essa fase já passou há um tempo… Sobra aquele sentimento de impotência perante um sistema tão sujo que não parece ter solução (Talvez Raul Seixas!).
Quanto mais o filme vai se desenrolando, e você vai acompanhando a saga dos personagens (principalmente do Nascimento), começa-se a notar a inutilidade de uma democracia uma vez que o controle é feito através da mídia e decidida por pessoas que não têm o nível cultural mínimo pra votar. E esse mesmo sistema não vai trabalhar pra melhorar esse povo, pois acarretaria na perda de votos nas campanhas através de mentiras mascaradas em campanhas falsas e antiéticas.
Como um jogo de xadrez, todos não passamos de peões. Trabalhamos, lutamos, estamos à frente da violência, aprisionamo-nos em nossos lares, somos sacrificados todo mês para que o Rei e outras peças mais “importantes” mantenham seu status e subjuguem sua oposição, quando na verdade o interesse político deveria focar no que é melhor para o povo.
Saí do cinema dizendo que preferi o primeiro filme ao segundo. Talvez pelos clichês e apelo socio-político explícito desse. Mas hoje entendo que não é fácil enfrentar seus medos. E o que assisti naquelas 2 horas aproximadamente de filme é que a realidade é praticamente aquela. E isso é o que me assusta.
É muito fácil assistir filmes americanos com cenas de ação onde o mocinho salva tudo e garante o “american way of life”. A violência desse gênero é forjada, caricaturada e em sua grande maioria, fictícia (não… John McClane não seria tão duro de matar.. rs). Mas aquela que vemos no filme é algo tocável.
É aquela história de um amigo do amigo que soube através de um primo de que alguém foi morto na boca. É um conhecido que sabe do sistema de propina que rolou no senado (e talvez ainda role) mas ninguém sabe. É a realidade presente nas nossas vidas apenas em forma de película com pipoca (amanteigada) e refrigerante. Você consegue imaginar aquilo. Você vê fatos próximos àqueles. Tudo é crível e palpável.
Por incrível que pareça, aquele filme retrata exatamente minha opinião sobre a política brasileira nesse momento. Aquele filme explica o motivo de eu votar nulo há 2 eleições. Responde diversas perguntas do porquê dessa minha atitude. Nada mais democrático do que eu escolher os meus governantes sem ser obrigado a isso (voto facultativo é para outro post) . Prometo não reclamar do governo que assumir, se você conseguir me dizer que não votou no “menos pior”. Tropa de Elite 2 é um bom filme para você que gosta de aventura, humor bem construído, e sente de alguma maneira a impotência que todo brasileiro em sã consciência deve estar sentido nesse momento em que vivemos.